A editora Jenny Eliscu, colaboradora da revista Rolling Stone, entrevistou Britney pela primeira vez na edição 877, quando ela já estava em sua terceira capa. Agora, Eliscu fala sobre as mudanças que viu em Britney através dos anos, e como foi ganhar acesso à estrela para sua nova matéria, O Retorno de Britney.
Quando você a encontrou pela 1ª vez?
“Foi no verão de 2001. Ela havia acabado de se mudar para uma nova casa em Hollywood Hills e estava decorando-a com sua mãe. Ela estava namorando Justin na época. Fomos ao quarto dela e no closet havia uma camisa que era obviamente do Justin. Era uma camisa de caubói. Estava pendurada sozinha — eu olhei e lembro de ter pensado "Isso é do Justin! Ele deve dormir aqui!" E ela foi muito pé-no-chão e amigável e brincalhona — seu charme me pegou imediatamente. Era fácil ficar perto dela. Ela estava de jeans e uma camisa e o lápis dos olhos era da noite anterior — o que parece sempre ser o caso com Britney. Fomos ao estúdio juntas, e ela estava trabalhando com o produtor B.T. Ela entrou na cabine e cantou, e era surpreendentemente fácil para ela.”
Como você compararia a garota daquela época à de agora?
“O que mais mudou foi a experiência. Eu já havia entrevistado algumas vezes desde aquela primeira matéria, e havíamos até falado sobre fazer um livro juntas alguns anos atrás. Sabe, ela costumava me mandar cartões de Natal e bilhetes de agradecimento e coisas assim. O que, diga-se de passagem, é extremamente raro alguém fazer depois de você escrever sobre eles. Dado todo esse histórico, eu fiquei realmente surpresa pelas restrições ao meu acesso a ela. Fiquei pensando, "qual é o problema aqui?" Isso me deixou desconfortável no ato. Então responder sua pergunta é difícil, porque, comparada às minhas experiências anteriores com ela, esta foi tão minuciosamente controlada. Eu a vi várias vezes durante setembro e outubro, mas só pude falar com ela em duas dessas ocasiões. Minhas impressões são baseadas nas restrições muito limitadas que foram impostas a nós. Isso posto, a primeira vez que eu a vi nesta matéria, a primeira coisa que pensei é que ela estava linda. Ela já se parecia com a Britney. Mas havia um clima muito forte de "vamos terminar isto logo" e o empresário dela teve que ficar junto. Não foi possível me enturmar com ela da forma como eu estava acostumada, tanto nas minhas entrevistas anteriores com ela quanto em comparação com o que é normal ao se cobrir um assunto com detalhes.”
Você a ouviu dizer no documentário sobre como ela se sente uma prisioneira. Você sentiu essa vibração nela?
“A verdade é que, quando me encontrei com ela, não estava procurando por isso. Eu comecei a me sentir desconfortável com todas as restrições, como ter que mandar minhas perguntas para aprovação e não poder ficar sozinha com ela. E cada vez que eu perguntava quem estava fazendo essas regras, me diziam que tinha a ver com a conservadoria. Como todo mundo eu não sabia muito sobre conservadorias e como elas funcionam. Claro, a coincidência é que a mais famosa conservadoria no passado recente nem é a da Britney: Fannie Mae e Freddie Mac foram submetidos a uma conservadoria do governo. E nós vimos o resultado brilhante que isso deu. De qualquer forma, eu havia feito uma pesquisa preliminar a respeito, mas ainda não estava ciente de quão duramente a Britney havia tentado lutar contra isso no começo e por quê. Conforme eu fui pesquisando, começou a ficar claro para mim que isso talvez não seja algo que ainda deveria estar em prática. Porque é um processo planejado, idealmente, para proteger pessoas que estão seriamente doentes. Estamos falando de pessoas que não estão em sã consciência, de acordo com os advogados que consultei. Ou que estão em estado vegetativo. Ou que estão tão velhos que não conseguem mais cuidar de si mesmos. Mas Britney? Fazia cada vez menos sentido conforme o tempo passava.
Então, como eu disse, foi só no meu último encontro com ela que percebi como esse controle ia muito além do escopo da minha entrevista e se estendia a todas as áreas de sua vida. E por isso, infelizmente, não fiquei checando se ela piscava um sinal de S.O.S ou coisa assim. Mas em retrospecto, eu acabei tendo um novo entendimento da frase que ela disse no final do artigo, que foi a última coisa que ela me disse, no contexto de estar sendo entrevistada. Ela estava descrevendo uma música que escrevera sobre expressão artística e fingimento — fingir ser outras pessoas e fazer shows. E ela disse: "Através disso você cria seu mundo". A música é sobre uma garota que gosta de viver num mundo de faz de conta, e ela tem um monte de gente tentando entrar no mundo dela sem ser convidada. É bastante revelador. Quando você pensa a respeito, Britney é uma artista — uma artista pop, no sentido mais verdadeiro — e às vezes artistas fazem loucuras. Eu não sei por que Britney não é autorizada a agir de maneiras que normalmente consideramos aceitáveis em artistas. E somos culpados também porque nós criamos esse personagem Britney Spears e não vamos deixá-la mudar.”
O que você acha que vai acontecer? Essa conservadoria vai ser um problema para Britney no futuro?
“Já é um problema para ela. E o encarregado recentemente autorizou o pedido deles para torná-la permanente. Se algo não mudar — se alguém não contestar isso —, a conservadoria teoricamente ficará em efeito até que o pai dela morra. Até agora, Britney falhou em suas tentativas de contratar seu próprio advogado.”
Por que você acha que o tribunal continua aprovando a conservadoria?
“Uma teoria aceitável alega que a conservadoria consegue continuar em efeito devido a pressão política nos tribunais para manter Britney longe das ruas. Seu comportamento errático definitivamente era um problema para os habitantes de Los Angeles, que merecem o direito de dirigir na rua sem medo de ser atropelados por uma manada de paparazzi atrás da Britney, entende? Ela estava criando caos, e é justo considerar o impacto nos seus vizinhos e na comunidade. Mas eu acho também que é importante que a conservadoria seja transformada em um tipo de censura. Como a própria Britney observa no documentário, a punição para suas peripécias têm que se adequar ao crime. A esta altura, é como se a estivéssemos punindo por ter sido sem-vergonha, e por ser infantil. E aqui é a América! Se a Britney é famosa por agir assim, só podemos culpar a nós mesmos.”
Crédito: Rolling Stone
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